domingo, 7 de julho de 2013

A geladeira azul

Queria lembrar mais da época que tinha 2 ou 3 anos de idade.
De vez em quando, alguns momentos surgem na minha cabeça e eu não sei ao certo se foram reais.
Minha mãe grávida, por exemplo. Eu vejo ela descendo uma escada, de vestido e cabelo longo, com uma mamadeira na mão. Acho que era um hotel, porque era um salão grande, com várias mesas.
Ela não lembra dessa cena. Mas diz que quando estava esperando minha irmã, fomos passar uns dias em Poços de Caldas.
Também me vem a cabeça, vez ou outra, a seguinte cena: eu, de calcinha, sentada num toco de árvore no chão. De repente, sinto uma picada, duas, três, dez. Choro e minha mãe me pega no colo e sai gritando que eu tinha sentado num formigueiro. Essa, dizem, foi real!
Mas o que não não sai da minha cabeça é a imagem da geladeira azul que tinha na casa da minha vó.
Lembro do dia que ela chegou. E do lugar que ela foi colocada, na cozinha de fora da casa, onde antes existia uma vermelha velhinha.
Sob a porta, a marca reluzente: Consul.
Quando cheguei perto admirei a imensidão do eletrodoméstico.
E isso era um problema, já que lá eram guardados todos os doces que ela fazia.
Para lá eram enviados o doce de leite branquinho e cremoso, o doce de abóbora, a goiabada, a bananada e o meu favorito desde sempre: o doce de mamão em calda.
Muitas vezes, lembro de ficar na espreita, esperando alguém abrir a porta da geladeira para atacar e roubar lascas finíssimas e transparentes do mamão cheirando a açúcar e cravo.
Ah...que cheiro era aquele!
Cheiro de casa de vó. De carinho e aconchego. De colo. De sorrisos ao me ver tentar escalar a geladeira azul.
De uma saudade imensa.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
 
Studio May Ishii

TEMPLATE DESENVOLVIDO POR STUDIO MAY ISHII. POWERED BY BLOGGER. DANI, MARCÃO, NINA E ALICE © 2012.